sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A Choupana de Tia Egle

Ma comé que tá vc?

Acabaram-se os versos marotos?

A singeleza da palavra escrita?

A candura da prosa pela prosa?

As piadas de duplo sentido e as de sentido único?

Ma comé que pode ser verdade uma porra dessa?

Trocaste pão velho por xoxota?

Eliminaste as citações de nossos mestres? Onde está Drummond?

Eliseu Drummond.

E a Taxa Referencial?

Onde estão todos, afinal? Criando filhos?

Ninguém mais faz porrolho, aquele papel higiênico molhado atirado ao teto, que fica grudado para quase sempre!

Já pensou que ninguém mais pode repetir à exaustão a piada do Vicente Matheus, que agradeceu a Antarctica por ter mandado as Brahmas?!

Sim, pois a união das duas empresas destruiu uma das melhores piadas do repertório nacional, observe para onde está indo o mundo!

Daqui a pouco vão querer unir a Mangueira e a Império Serrano e lá se vai mais uma piada. Como passar o Carnaval sem perguntar a alguém se viu a Mangueira entrar? Repito essa piada desde criança! Como farei?

As piadas estão sendo destruídas na nossa frente e ninguém faz nada!

O que eu vou falar no Carnaval? Que a Mocidade Independente nunca envelhece? Prefiro criar hamsters.

Sim, para entender por que há pessoas que criam hamsters. Será que elas não sabem que já inventaram o cachorro?

Ma comé que tá vc?


***

Muito me calora sua manifestação, salobra tecnicamente, impecável moralmente, especialmente tendo sido sua pessoa tema de vernáculos escambados entre eu e meu colega ao mesmo tempo em que escrevias as infracitadas questões.

Justo ao mesmo tempo em que tecias seus comentários contundentes, eu e o colega trocamos algo como "onde está ele?"

"Terá sido abduzido por Comunas paranóicos?"

"Terá sido enjaulado, com seu direito a voto suspenso, por terroristas tiroleses?"

"Terá se transformado num amansador de Tamanduás-Bandeiras?"

"Ou, simplesmente, terá se transformado num formoso interruptor de luz?"


Foram essas as questões sucitadas na data de ontem, entre uma gravação aqui e uma edição acolá. Neste lanço, ainda calha à fiveleta autorizado escólio da lavra de Jean Rivero: "Pat num ternum, tantum verbis fugis".

Sobre suas questões (agora mais diretamente), perda as esperanças, meu nobre amigo. Num país onde o jovem de classe média alta, usuário aí do que se chama tecnologia, Internight, Orkut, MSN's e adjacências, escreve a palavra "mas" com "i" (mais), onde o "aqui" virou "aki", onde são digitados à revelia "rsrsrsrsrs", "huauhuahuhauhauha", "naum", "achu", "ki", "ti", "certeza abissoluta" e outros vernáculos recentes que não me vêem a mente, nossa única chance e saída está numa substanciazinha que começa com "N" e termina com "APALM".

Caso contrário, nossas piadas terão que ser sobre portugueses e caixas de fósforos, pernas de centopéias, caca de nariz e xylocaína.


Atenciosamente,

Bernardo Eremita
(Adestrador de Curupiras, CEO da Brastemp e Abajour)




Ora, ora, ora, 7 e meia!

Se eu pudesse escolher entre ser abduzido por comunas paranóicos ou extraterrestres interruptores, oxalá fosse por estes últimos, meu logunedê! Ai, mizifi, Oxum, Nagô, ai, minha fia, óia a Pomba-Gira, Oxossi, Exu-Caveira..........................................................

Desculpe, hj é sexta-feira, dia que sou abalroado por espíritos baladeiros do imaginário popular africano.

Tibira era o índio Tambacura da telenovela Aritana, não? Patrocínio: Lojas Tamakawy. A-ai.

Ma para de falar que eu fui enjaulado, porra, só contei isso pra vc. Se o teu e-mail cai na rede, fica todo mundo sabendo, vc me fode, caralho.

Et pluribus unum nus cus alheius es refrescum

Atenciosa mente. Quem fala a verdade é a distraída.


Seu enteado de segundo grau,

Sununga Eremita
(Entregamos deliciosos hambúrgueres de carne de paturi nas cavernas da região)




Ora, mas que malfadado quiprocó.

Nossa mentes, tão assoladas por Bondes do Tigrão, Trens da M Boi-Mirim e Vagões de Coríntians-Itaquera, já não funcionam mais como antes. Cedem ao sinal de qualquer empecilho.

Quiçá fôssemos como nossos colegas asiáticos que clamam pelo reforço de uma saborosa sopa de barbatana de tubarão.

Aqui poderíamos usufruir dos poderes do Acarajé, Tucunaré ou Exu-Pimenta. Mas ninguém quer se esforçar.

Aqui é a terra da Lei de Gerson, Lei de Oscar e Lei de Fernando de Mesquita. Quem ri por último geralmente é porque usa aparelho.

Fixo.


Candelabros,

Gêiser Antunes
(Afinador de Teremim, Treinador de Nado Sincronizado e Vaso de Antúrios)




Com mil limões!

Houve descarrilamento e alguns tiveram ferimentos leves. Uma mulher perdeu a peruca de fleumas, uma criança acertou a bengala na terceira têmpora de um alienígena e um homem foi preso em flagrante, acusado de ser argentino.

Nos vagões de 9 a 12 havia vários animais: um tigrão, que ficou flertando com as moças da cidade, um m'boi-mirim que foi confundido com um m'cavalo-mirim, um tucunaré que -assim como fazem todos os marsupiais- se escondeu na bolsa da mãe, e o acarajé, que voltou pra Bahia.

Era sexta, dia do rodizio, e um mexicano, com uma mão levantada e outra apertando as próprias ovas, comemorava triunfante: "El fuca vermejo no me atropelará jamás!"

vE se te procurarem com o objetivo de chegar até mim, diga que nunca me viu, que nem sabia que eu existia e, como sempre, que tenho vóish fina. Negue veementemente afirmações em contrário. Também não revele que ou a rodeios, nem que sou chegado numa mulata faceira.

Guarde bem isto: Leis não foram feitas para serem cumpridas, não somos animais domesticados, empregadinhos de um governo que tem um czar tão promíscuo.

Anderson Clayton Advogados (ao lado do puteiro da Cleonice)
(Lady Incentivo Fiscal, Lady Proteção Ambiental, Lady Trânsito e Lady Apoio à Cultura)




- Tragam-me um sacarrolhas, um abajour fêmea e um tigre dente-de-sabre, e vão ver como se faz um antipasto!
disse o baleeiro Rosemar Morganti.

Embora soe deveras empafioso, me utilizo de tal lavra para lograr êxito no quesito linguística, correndo o risco de desrepresar uma catadupa de incostituciolalidades.

Posto isto, devo corroborar com seus subterfúgios, afinal essa onda de Fuscas Vermelhos e Fúcsias Amarelos pode levar qualquer um à deriva. Ou como já diria tia Egle, do Jardim de Infância, pode levar qualquer um "a a" deriva. Tia Egle que, com muita paciência, me ensinou a soletrar Choupana e também que o coletivo de abajour é "aludel". Mais tarde, nos idos de 1964, minha professora de geografia me passou uma prova onde eu deveria nomear e localizar todos os países da África, com suas respectivas capitais. No que eu, mais que prontamente, respondi: "isso não prova nada, prova só que o Coringa é um filho da puta".

Tais informações serviram não só para ungir minha psique como para polir meu caráter, embora hoje um pouco abalado pela última interpretação de Francisco Cuoco. Também conhecido como Chico Buosta.

Mas nada tema!

Afinal, já foi abolido o trema.


Vinagres,

Paulo Pelúcio
(Adestrador de Tamarindos, Gerente Júnior de Novos Negócios e Pano de Chão)




O trema não foi abolido, não! Nem vem com graça.

É uma desumanidade o que estão fazendo com o trema. Fingem que não existe, fazem cara de enfado quando se toca no assunto, consideram perda de tempo. Onde estamos? Numa pastelaria? Então falemos mandarim!

Eles desviam o olhar quando se fala do trema porque tem medo! Medo de encarar as pessoas na rua depois de expulsar do idioma uma acentuação centenária! Medo de dar uma cagada e descobrirem, daqui a alguns anos, que o trema precisará voltar! Seriam condenados pela injustiça cometida. Masmorra.

Outra coisa: vc já imaginou como esses dois pontinhos vão reentrar triunfantes? Vão querer acentuar todas as vogais, vai dar uma merda tão grande, eu não me arriscaria.

Uma pessoa como vc, que ungiu sua psique, poliu seu caráter e varreu sua garagem, não pode compactuar com pessoas que desejam a expulsão do trema. Já não chega ter a toda hora alguém o chamando de 'a trema'?

Ora, vá chupar uma choupana

Auditado por:
Elixir Penteado
(cabeleireiro sênior, trainee de estivador e rodinho de pia)




Ora, mas que atrevimento.

Eis que surge o estandarte, o balaústre do conservadorismo neo-pagão, derivado de uma primitiva escola que punha o pau na cerca para o bezerro mamar.

Intolerável, no mínimo.

Com exceção para o trio de Jazz sueco Esbjörn Svensson Trio, calço minhas sandálias de concreto.

E digo mais. Encaminharei qualquer abuso ao Juizado de pequenos acentos. Afinal, porque um sujeito que pesa 30 arrobas não pode nem se sentar num busão, avião ou cinema?


Morcegos,

Valério Volúpio
(Empreiteiro, Cascateiro e Saco de Merda)




Petulância é pouco, seu saco de merda!

Desdenha de meu néo-paganismo, me chama de porta-bandeira da defesa do acento... então já se esqueceu do dia em que ficou a ver navios no aeroporto? Um pulha sem moral, um filho de escoteiro, criado entre os lobos.

Que afinem os acentos, então! Que os gordos explodam! Sejam proibidos de entrar na aeronave, vetados no bonde e, em vez de irem ao cinema, que fiquem a ver videoteipes em casa, em sua poltrona gigante, comendo a colheita de um hectare de milho de pipoca. É isso que vc queria?

Então é o que vai ter. Acenda um whisky, coloque pra tocar um jazz sueco do trio Esbörnia e se acomode no cadeirão. Você não vai acreditar no que vai ver.

Padaria Requente
Pão quentinho diariamente
Se foi mal atendido, diga-nos. Se não foi, diga aos outros
Fiado só para maiores de 80 anos, acompanhado dos pais
Banco não vende pão, padaria não troca cheque
Aceitamos encomenda de bacalhau na brasa
Trocamos pão velho por xoxota





Pare!

Você pode atirar contra essa cabeça cinzenta, mas poupe essa bola, disse a voz lamurienta.

Com mil violões, então é essa a sua trama?

A mesma de Max de Quatro, Peido Mariano e Wilson Simalinha?

Pois você não perde o tempo por esperar. Pedalarei por todas as alamedas deste condado para reavivar os direitos dos cefalópodes, brontossauros, hipopótamos equilibristas e outros paquidermes selecionados.

O dia está próximo.

Aproveito ainda o ensejo para entoar a velha máxima de Sala Especial:

"Sabendo usar..... não vai faltar...."


Jacintos,

Novelho Rozental
(Jornalista, Embaixador do Suriname e Porta CD)




Pensa que sou um bacuri-gonzaga? Olha para mim e enxerga um muzaranho a quem pode tripudiar? Um calau-de-polainas, a saltitar feito um bobo?

Pois saiba que errou o alvo. Nessa da cabeça cinzenta e voz lamurienta você está a se repetir. Conheço todos os seus livros, apostilas, compêndios, manuais, automáticos e apêndices. Não tente me enganar.

Naum tente me enganar, porque sou capaz de adotar essa grafia, toda vez que escrever a negativa. Sempre dessa forma abominável e torturante, a ponto de explodir suas falanges de esquerda. Naum duvide de mim.

Mas partamos em direção ao que nos interessa: a lei. É chegada a hora de relembrar o que estava escrito na lei de talião.

Talião, conhecido internacionalmente pelo enunciado de sua máxima -quem com ferro fere...- não fora lá um homem privilegiado. Basta analisar sua lei para comprovar que era desprovido de um mínimo de discernimento, enfim, um cabeçudo, primitivo.

A cabeça tinha a mesma circunferência do homo sapiens, entretanto, faltavam-lhe 2 ou 3 diodos, o que lhe causava embaçamento de caráter sempre que abria a geladeira.

Talião, soube-se mais tarde, não era uma pessoa, não era um nome próprio, nem tampouco foi autor de porra de lei nenhuma. Mas isso não tem um centímetro de interesse sequer. Interessam-me as fábulas, aos metros, e não os fatos.

Refiro-me às fábulas e reservo-me o direito de repetir-me também-me:

"Acabaram-se os versos marotos?
A singeleza da palavra escrita?
A candura da prosa pela prosa?
As piadas de duplo sentido e as de sentido único?
Ma comé que pode ser verdade uma porra dessa?"

Velcro de Arruda Torres
(Gerente de RH, Soldado Israelense e Cerveja Pilsen)




Ah, pois se não conheço Talião, o bem-lacrado!

Aquele ladrão de queijadinhas, amante de tijolos, escravo de tiroleses. Fonte de falácias, fonte de cálcio, fonte da juventude.

Eu, pessoa nobre e cordata, dona de notório saber jurídico e reputação ilibada, não iria conhecer tal sujeito! Lembro-me de certa vez em que, convidado por seu primo Narjaro Tureto para ir de camarote ao show de Emmerson Nojeira Cover, respondi-lhe: "não posso, hoje tenho chá de bebê."

É chegada a hora em que seremos livres, como diamantes soltos em alto-mar, como vassouras equilibradas em candelabros, como equinos planando por sobre milhares de hectares. Venha, nobre amigo. Naum si iskeça ki ninguém tem akilo que naum merece.

Venha. Vista seus chinelos de linólio, seu manto de amianto, seu pulover de pólvora!

Venha, vista seu cérebro de couro, seu fone de fósforo, seu pulmão da Pullman!

Vamos percorrer as nuvens de gelatina, nos céus de queratina, com asas de vaselina!

E, quem sabe, não nos sobre alguma dama ou valete de ouros?


Lambruscos,

Mestre Sabú
(Sambista, Alforrista, Saudosista e Veneno para Ratos)




Com gargalhadas cacarejadas, assusto caninos. Imaginei que, do alto de meus 127 anos, não conheceria mais nenhum nome na minha vida que superasse o assustador Narjara Tureta, na minha opinião, uma das piores invenções do ser humano em toda a história.

Mas eis que surge seu masculino, algo que foi criado absolutamente para assustar até os peixes do aquário! Só mesmo acorrendo a algum chá, seja de bebê ou de panela, assim mesmo serve.

Hoje rio, mas com uma ponta de ironia. Hoje rio, mas com um fiapo de manga preso entre os dentes, pois quantas não foram as noites, na minha pré-adolescência, em que acordei sobressaltado com o pesadelo recorrente, apavorante, estrelado por Narjara, falando com voz grave e boca cheia de pré-molares: "Meu nome é Narjara! E esta é Tureta, minha terceira teta".

Não que Sura Berdichevsky não freqüentasse meus pesadelos, mas não era um doze-avos do que representava Narjara.

Por isso prefiro os cães. Mesmo tendo lavado 16 patas como fiz hoje. Mais 8 orelhas, 8 olhos, 4 fuças, 112 unhas, 4 rabos, 4 vulvas, 4 cus sem assento. Sem falar nas guelras. Só nas guelras gastei 3 minutos/cadela. Se 3 minutos=1 cadela, X minutos=4 cadelas. Para saber o X, basta aplicar o Teorema de Tales.

Porém, indiferentes a minha dedicação higiênica, ao meu esforço físico e aritmético, houve cão que reclamasse. Fui logo dizendo que deveriam dar graças a deus dos caninos -Canni Dio, um cachorro-mór, onisciente, onipresente, onipotente, tipo cão-pai-de-todos, Canni Padre di Tutti, que protege os cãezinhos da terra-, agradecer a ele por ainda haver água, insípida, inodora e incolor, para banho de animais remelentos.

Houve quem protestasse. Houve greve nos sindicatos. Quebra-quebra nas pet-shops.

Mas eu mantive minha dignidade e não capitulei. Nenhum ser sobre a terra poderá me acusar de omissão. Nem hoje nem nunca.

Conheça Mamulengo Caribé
E descubra um criador dedicado
Ele é o inventor do caga-de-pé
Mas agora deu de mijar sentado

Até que dá certo sentar
Eu mesmo sempre aproveitava
A chance de mijar
enquanto cagava

Mas cagar de pé
Eu nunca consegui
Só mesmo o Caribé
Que é um saci






Não que eu tenha alguma sugestão, mas não que também talvez não tenha.

Essas foram as últimas palavras de Cel. Mostarda, antes de seu flagrante com o Candelabro, no Salão de Jogos.

Pobre Coronel, que sempre se esmerou na retirada de espinhas do Salmão, que sempre julgou seus vizinhos com a imparcialidade de um Juiz Lalau, que sempre se afinou com moças do mais puro requinte, nem todas do Tieta ou Night Panthers, mas todas de talante elevado.

Pobre Coronel, que nunca tirou menos do que 3,7 em Geometria, mas que passou a infância sendo vítima de acintes por sua voluptuosa coleção de acnes no rosto, algo simplesmente involuntário para alguém de sua idade. Pobre Coronel, que foi obrigado a fazer 3 lavagens estomacais só no mês de abril, a fim de remover 3 Kg de frutas cristalizadas que lá se alojavam impunemente. Pobre Coronel, que amiúde se postava depois do Pontião, seguindo reto toda vida, cruzando a faroleta na segunda às esquerda. Pobre Coronel, que até hoje não havia contemplado uma única folha de almeirão sequer.

Agora, sentenciado a passar 3 anos comendo apenas anchovas e assistindo apenas programas com participações de Leão Lobo.

Destino cruel lhe trouxe a vida.

E agora, só lhe resta passar seus últimos anos a gritar, do alto de seu cárcere, as palavras sagradas:

Quando Deus te desenhou, ele tava namorando.


Top Time. Relógios,

Cassandro Tetas
(Eclesiástico, Escoteiro e Capa para Sofá)

Raças de gatos (grátis raças de taturanas. Bônus raças de Coelhos. Plus: Raças de Suínos)

Gato-onça do Malawi
Felino da Finlândia
Gato-leão dourado
Gato-mico da Pérsia
Gato-pantera assassina
Arábia
Bichano do Panamá
Bichano de Honduras
Bichanne du Sûr-le-mér
Chaninho brasileiro
Wiener schwarze Katz
Chapolim mexicano
Gato persa do Zimbábue
Chaves mexicano
Gato persa da Pérsia
Mangorá Testudo
Mangorá angorá
Devon Master
Gato sagrado da Turquia
Popcorn
Pipoquinha da vovó
Tuna thief
Haroldo
Sticky fingers
Gigante da Cornuália
Chaninha de pelo curto

Gatón Trebut
Gatón Frisée
Gatón Defrisée
Pappon Chucrut
Pappon Lesbaud
Suricato Siamês
Suricato Messiâncio
Suricato Evangélico
Persa de Pelo Salgado
Persa de Mesa de Centro
Gatut de Versalhe
Gatut da Varsóvia
Gatut do Caralho
Pelúcio de Mograbe
Pelúcio Indiano
Pandorá Malhado
Pandorá de Pelo Certeiro
Pandorá de Pelo Cruzado
Pandorá de Boina

- Grátis algumas raças de taturanas:
Tatut Multipisant
Tatut Curupira
Multipatas da Birmânia
Trenó da Turquia
Taturain de 99 patas
Taturain Vesga
Taturain de 48 Cabeças

- Bônus contendo raças de coelhos:
Angorá gangorra
Cagante Saltador
Coelhos que dizem 'ni'
Big nose da Colômbia
Olho vermelho da Jamaica
Coelho do cocô-bolinha
Coelho do cocô-clarineta
Roger Rabbitt
Ryan Rabbitt
Richard Rabbitt
Thomás no Rabbitt
Dentuço da Leucásia
Dentuço fornicador
Coelho da toca seca
Coelho da toca funda
Coelho da toca do cu
Coelho Saltador da Puta que o pariu

- Plus com raças de Suínos:
Trébut de La Merd
Chanson de Pig
Fornicador de Belfast
Fornicador de Stalingrado
Porcão da Palestrina
Porcão de Três Pinos
Leiton de Torréism
Leiton de Pururuc
Gordo Calabrês
Gordo do Dente Pontudo
Baleia do Rio Bostal
Baleia da Terra Seca
Porquinho da Índia
Porquinho da Ásia
Porquinho de Sydney
Porquinho Plug and Play
Porcolino Malhado do Sul
Porcolino Tatu
Porcoso do Meio do Cú

- Apêndice com raças de cavalos
Manga Justa
Manga Longa
Manga Curta
Fiapo de Manga
Garanhão Galopante
Garanhão Gay
Garanhão Comedor da Bulgária
Garanhão Broxa do Circo Orlando Orfei
Garanhão Transformista (em Égua-Macaca)
Stallion Roover-Champion
Stallion Winner-Harris
Stallion da Casa do Caralho
Capão Bonito
Capão Redondo
Capão Muleque
Mallone de Rédeas Curtas
Crina Crioula
Crina Alfinete
Crina Salgada
Crina do Meio do Olho do Cú
Crioulo do Prado
Crioulo do Suriname
Crioulo Doido
Haras Cidealmeida
Horse from Chicago
Horse from Boston
Horse from the Middle-East
Horse from the Middle of Your Ass Eye
Chevall de Bost Vért
Chevall de Bost Fetide
Chevall Q'cag na Rue
Black Horse
Black Horse Marrom
Black Horse Malhado
Black Horse Branco
White Horse
Scotch White Horse
Scotch White Horse Paraguaio
Napoleon's White Horse
Potranka Russa
Cavalo de Botas
Cavalo Fashion
Cavalo Pé-de-Mesa

O Massacre de Oz

Seu nome era Orozimbo. Fabricava clipes para papel, mas se ressentia por nunca ter dado voz à sua verdadeira vocação: motorista de Betoneiras. Passava os dias a entrelaçar os próprios clipes, imaginando uma forma de sair daquela situação.

Certo dia recebeu uma visita estranha, inesperada. Era seu primo Cosme, que tinha se mudado para a Guiana há mais de 3 décadas. Com um ar surpreso lhe indagou: o que está fazendo aqui, como me achou?

Cosme apenas olhou para ele e em seguida desviou o olhar em direção à janela, como querendo apontar algo. Orozimbo de aproximou da janela e mal pode acreditar no que estava vendo... seu sonho estaria próximo de se realizar? Seria um primo esquecido distante o responsável por sua virada de destino?

Ali estava, parado como um poste com paralisia cerebral, no alto de seus sapatos ridiculamente largos e chumaços cor de ferrugem, ninguém menos do que o verdadeiro... Ronald McDonald's.

Embasbacado, Orozimbo não se conteve e saiu em disparada, nem viu que pisou na unha encravada do primo Cosme, que ficou sem voz. Desceu as escadas da fábrica como Eddie McFodden no filme "Desabalada Carreira", chegando enfim no paiol.

Aproximou-se, para confirmar que não estava sendo enganado pela hipermetropia. Não podia ser verdade. Mas também não podia ser mentira. Sendo assim, não havia dúvida: estava diante do eterno e inefável Ronald McDonald. Por isso, caiu a seus pés. Ajoelhado, Orozimbo fez o sinal da cruz e pediu uma Mc Oferta nº 1. Enigmático, Ronnie respondeu com uma pergunta: "Fritas acompanha?"

Orozimbo então pensou, pensou, e se lembrou do conselho de sua avó Anunciatta: "jamais corra com objetos pontiagudos ou coma frituras após ler o jornal". Ele sabia que havia se comprometido com tal regra, e ainda se lembrou do filme Supersize Me (a Dieta do Palhaço), com o qual se identificara a valer.

Mas como era sujeito de contradições, resolveu aceitar. Afinal, não é todo dia que se recebe a oferta de um mestre da arte gastronômico-circense.

No entanto, após ter ingerido cerca de 37 batatas, começou a engasgar e novamente caiu de joelhos perante o atônito Ronald, que exclamou veementemente:

- Aceita um Mc Sundae Feliz?

Orozimbo, que repetia a cena ridícula de se jogar aos pés do palhaço pela segunda vez em menos de 3 e-mails, caiu com a testa no enorme sapato do entertainer de picadeiro e ali ficou, imóvel. O que ninguém percebia era que Orozimbo estava sufocando.

Acontecem casos de sufocamento por McFritas todos os dias em todas as cidades onde Ronnie finca as fundações de seu império. Não foram poucas as vítimas, entre crianças, velhos, senhoras, moças, rapazes, meninos e salamandras.

Mas voltemos ao nosso herói Orozimbo que reage, mas respira com muita dificuldade e parece querer dizer algo. Ao perceber que seu seguidor estava com problemas, o benevolente palhaço oferece a ele uma Coca média com bastante pedra de gelo.

Orozimbo, prestes a vestir o paletó de madeira, faz um esforço sobrenatural e finalmente consegue perguntar ao palhaço:

- É light ou normal?

O palhaço prontamente responde "não sei, não costumo tomar essa merda".

Orozimbo então tenta se endireitar pra tomar a Coca, quando sente um tranco pelas costas. Seu primo Cosme havia se lançado pela janela atingindo-lhe as costas com os pés, fazendo Orozimbo finalmente botar pra fora a quase inteira porção de McFritas.

Não sabendo bem o que fazer, Ronald apenas começou a sapatear e cantar a música "Abalou", de Ivete Sangalo.

Mas esse era mais um truque entre os inúmeros que Ronald preparou para aquela inusitada tarde.

A palhaçada de sapatear Ivete era o sinal para que, lá fora, o grupo musical preparado para aquele momento, começasse a tocar em alto volume a música "Sanduíches de minhoca" ("Worm sandwiches")

Então, abriram-se os portões e o que se viu não foi uma banda, e sim a Bateria da Escola de Samba Unidos da Mocidade Rosas de Ouro da Estação Primeira de Mangueira Estácio de Sá com 177 integrantes, duas baianas, oito vatapás e 14 carurus.

Em seguida, notou-se que não havia só a Bateria da Escola de Samba Unidos da Mocidade Rosas de Ouro da Estação Primeira de Mangueira Estácio de Sá no paiol da fábrica, mas que atrás dela vinha também uma legião de líderes de torcida (no caso de Ronald, "cheerleaders") agitando bandeirolas estampadas com os dizeres I love Ronnie, onde a palavra "love" foi substituída por um coração com a cara do horrível palhaço.

Mas isso ainda era pouco. Ronaldetes entravam pelas laterais e um enorme carro alegórico surgia ao fundo, tendo sobre ele o grande apresentador Caju Cascalho, que avisava a todos que às 18h haveria distribuição de prendas.

Aviões começaram a desenvolver acrobacias no céu limpo, deixando rastros de fumaça com o logotipo do grande "M". Toneladas de serpentinas eram lançadas, transformando a Avenida inteira numa enorme celebração ao consumismo selvagem de produtos com alto valor calórico.

Esse pensamento mal terminou de passar pela tela mental do primo Cosme quando se avistou uma enorme faixa, atrás de todas as celebridades que davam vida à festa. A faixa era trazida por algumas dezenas de pessoas, entre elas 2 imitadores do Pelé, 1 sósia de Arnô Rodrigues e 3 amantes de Orestes Quércia. Em letras garrafais, coloridas como ovos de padaria, se liam os dizeres: "GRANDE MARCHA DA CELEBRAÇÃO AO CONSUMISMO DE PRODUTOS COM ALTO VALOR CALÓRICO".

Quando todos pensaram que não haveriam mais surpresas (além da distribuição de prendas), o que depois se soube ser a atração principal da celebração começou a chegar... silêncio sepulcral, olhares atentos, corações parados, celulares desligados, pão de queijo no forno... mistério... de repente, vibrações, como passos de um Tiranossauro Rex... mais vibrações, o chão começando a tremer...

Então uma manada desenfreada de gordos tomou a avenida, correndo como loucos, gritando como insanos, pulando como insalubres. Havia todo tipo de gordo: gordo baixo, gordo alto, obesidade mórbida, obesidade crônica, obesidade cômica. Gordos balbuciando, gordos empinado pipa, gordos cantando. Gordos soltando gases, gordos pulando cercas, gordos com várias tetas. Gordos em carne e osso, gordos infláveis, gordos inflamáveis. Gordos negros, gordos brancos, gordos amarelos, gordos fúcsia. Gordos nefastos, gordos com emplastros, gordos usando cotonetes. Gordos pelados, gordos de tanga, gordos dançando tango. Gordos sólidos, gordos bólidos, gordos gasosos.

Juntos, os mastodontes somavam 948 toneladas. Nunca na vida, Orozimbo vira algo que chegasse próximo ao impacto causado por aquela horda de gordos-vivos. Nem no dia do primeiro aniversário de Oregón Di Miletto 2º, seu cão da raça lavrador napolitano. Nem mesmo quando ouviu pela primeira vez o jingle Varre vassourinha da campanha de Jânio Quadros, ou ainda quando fez um curso com o Gasparetto -a experiência mais edificante que teve.

A manada superou todas. Orozimbo tinha certeza que jamais sentira algo tão poderoso. Era imoral! Amoral! Amaral! Sandoval! Irreal! É isso! Irreal! Só pode ser um flashback, pensou Orozimbo. Igual aqueles que costumavam acometê-lo anos atrás, conseqüência do consumo exagerado de cogumelos-de-bosta-de-vaca nos idos de 1968.

A última vez que teve uma visão, foi quando um dia achou que o primo Damião -irmão de Cosme- estava no outro lado da sala, e foi em sua direção para abraçá-lo. Mas não havia ninguém ali, aliás nessa época os primos já eram criadores de iguana na Guiana.

Para Orozimbo, entretanto, libertas quae sera tamen, ou seja: vejo, logo existe. Portanto, seguiu de braços abertos para saudar o primo e, não fossem os elfos a detê-lo, teria voado pela janela e morrido como um passarinho.

Mas os gordaças eram reais mesmo, e também orgulhosos dos seus 700 de colesterol (per capita). Dançavam uma dancinha indecente, aos gritos, saltitando como se fossem magros, sem se darem conta que essa palhaçada poderia tirar a Terra do eixo. Quisera Orozimbo que fosse mesmo um flashback.

Nesse mesmo instante vieram ao seu encalço para socorrê-lo os ensinamentos de Eddie Mc Fodden em "Disabalated career". Lembrou-se da cena em que Pleníades e seus soldados rompem a barreira de granito da Fortaleza de Toracata -seu momento favorito do filme-, quando dá-se a espetacular fuga de McFodden, que arranca em disparada, se cagando de medo.

Era difícil para Orozimbo fazer uma escolha naquele momento. Principalmente porque nos anos 70 já fora Gordo, desses que compram duas passagens no Avião. No entanto, após 14 anos de Diet Shake e fígado de Bacalhau, conseguia agora se esconder atrás de um palmito.

Ao mesmo tempo em que o medo lhe assolava, uma parte dele queria se juntar ao carnaval. Olhou para Ronald com um ar interrogativo, e este lhe devolveu um sorriso com a frase: "le se fair le se passer".

Orozimbo entendeu o recado, e se atirou na Avenida. Começou a pulular tal qual saci com pulga, festejando a liberdade de se comer o lixo que bem entender, desde que haja picles. Subiu no carro alegórico, brincou com o esguicho de leite moça, passou a mão na bunda da Miss Pomarola, tudo como se já fizesse parte daquela alcatéia há anos.

No entanto, ao ver aquele varapau brindando e se divertindo como se obeso fosse, um dos líderes da marcha interrompeu o som da bateria. Todos então olharam pra trás, e ele então apontou para Orozimbo com olhar de fúria, exclamando veementemente: "Magro! Magro! Magro!". Orozimbo não entendeu nada, mas logo percebeu que talvez tivesse sido um grande erro ter escolhido participar da convenção...

Num segundo, sua memória trouxe à tela mental de LCD 50", um filminho muito familiar, o que lhe deu uma idéia. Ali mesmo, improvisou um discurso homenageando a turba e discorreu sobre a emoção que sentira ao ver as danças, tão inovadoras quanto sensuais.

Enquanto falava, foi abrindo o faqueiro que trazia sempre consigo e começou a distribuir facas a todos os gordos, sem exceção, dos amadores aos abissais. Lento, porém rápido, Orozimbo, foi aos poucos atravessando por entre as pelancas flexíveis e assim, com o fairplay que lhe é característico, entregava as facas com um sorriso lado a lado, dizendo terem sido confeccionadas artesanalmente por seu pai espiritual, especialmente para esta ocasião.

Disse ser discípulo do renomado knifemaker Fat Gordon. Assim, com esse nheco-nheco, conseguiu escapulir da multidão, ganhar a rua e, se quisesse, poderia sair em desabalada carreira.

Entretanto Orozimbo - doravante denominado apenas Oz - tinha um plano mais complexo: primeiro, aproveitando a sua boa forma de palito, escondeu-se atrás de um palmito. Em seguida, surpreendeu todos os presentes, ao provocar com ofenças, as montanhas de carboidrato.

Num primeiro momento a idéia de incitar a manada parecia absurda, mas Oz não era apenas um palito tonto oculto atrás de um coração de palmito. É que o flash que aparecera na sua tela mental LCD 50", era de vó Anunciatta apresentando seu indefectível enunciado: "Vietato travessare i binari", ou seja, "Jamais corra com objetos pontiagudos".

"Vem pegar, seus gordo!" Foi assim que Oz incitou a tropa ao massacre. Já fora mais elegante, nem parecia a mesma pessoa que antes recebera um "le se fair le se passer" ou aquela que há pouco transitara com fairplay por entre a geleca humana.

Assim, utilizando-se deste pequenino estratagema politicamente incorreto, Oz criou em pouquíssimo tempo balbúrdia, violência e tumulto de causar inveja a qualquer Talibã. Eram gordos gordos, gordos obesos, gordos cataclísmicos, gordos torresmos, gordos indefesos, gordos indecentes, gordos dementes... todos armados em direção a um único objetivo: o massacre de Oz. Este, parado tal qual taquara verde, apenas aguardava, atento e lampreiro, para o próximo passo da manada carboidrática.

O que se seguiu foi uma cena de arrepiar os cabelos do saco de qualquer Freddy Krueger: o primeiro e mais enfático dos gordos, que tinha o porte aproximado de 3 javalis, veio com tanta fúria e velocidade que acabou escorregando num resto de molho bolognesa que alguém por descuido desperdiçara durante a passeata. Este singelo ato deu origem a uma série de tropeços de proporções bíblicas e ecumênicas, levando quase todos os gordos da tropa ao chão, que acabram pisoteados, esmagados ou esfaqueados. "Sangue e Gordura" poderia ser o nome do quadro que retratasse aquele cenário.
Apenas alguns gordos ainda sobreviviam, mas todos com visível cansaço, afinal tinham corrido no mínimo 10 metros cada um. Oz se mostrava impassível, como se apenas observasse um resultado totalmente esperado e há muito planejado. O boquiaberto e atônito primo Cosme estava ao seu lado, em estado de choque. No entanto, apesar da visível porém velada expressão de triunfo de Oz, ele havia esquecido de um pequeno mas importante detalhe: o pivô de toda aquela congregação... Ronald ainda estava vivo, em perfeitas condições físicas, e muito próximo dos dois...


De repente, tudo a volta deles sumiu. Não havia mais banda, aviões, rojões, multidões. Nem Ronaldetes, carros alegóricos, gordos, mulheres peitudas, homens sem bunda, cheerleaders, tampouco a "
GRANDE MARCHA DA CELEBRAÇÃO AO CONSUMISMO DE PRODUTOS COM ALTO VALOR CALÓRICO". Ninguém. Nesse instante, Ronald Herald McDonald olhou para Cosme Azevedo Peçanha, ambos sorriram, fazendo com que os chumaços da máscara de Ronnie se eriçassem. Um assistente, espécie de paquito, lhe entrega um megafone da marca Delta, para que o próprio palhaço explique a palhaçada.

- Welcome to the future! -começou ele, com uma voz de pato- Vocês acabam de ter o privilégio de presenciar uma exibição high technological person-to-person vivid interactive experience, ou, como preferimos chamar, "Parque do Roony", simplesmente o primeiro evento virtual totalmente interativo produzido em todo o planeta e também em todo o mundo... Você, Oz, sem saber de nada, foi o primeiro protagonista da nova aventura de Ronald Mc Donald e seus amiguinhos. Por isso, você vai ganhar um belíssimo presente da turma do Ronald! E seu primo Cosme, que foi quem nos trouxe até você, também ganhará uma lembrança inesquecível. Que entre a máquina!

Em seguida, abriram-se os portões e Oz não podia acreditar no que via, não podia ser real. Quis tanto aquilo durante toda sua vida e agora recebia de presente assim, das mãos de um palhaço! Em imagens nada virtuais, adentrava o pátio uma novíssima, reluzente e inoxidável betoneira.

Era uma betoneira da marca Agenor Casagrande, com motor de última geração. Estava equipada para poluir apenas quando passasse por bairros pobres, através de um moderníssimo sistema de detecção de classes sociais. Oz estava quase em soluços. Assim que a betoneira estacionou, conduzida por ninguém menos do que Mr. Shake, Oz dirigiu um olhar brilhante a Ronnie. Este acenou levemente com a cabeça, com um sorriso maroto no rosto.

Oz então entrou correndo no caminhão, seguido de Cosme. Deu a partida e saiu pela Avenida, deixando Ronnie e seus asseclas imersos numa nuvem de fumaça. Os dois primos mal podiam acreditar no que estava acontecendo. Impressionante o que pode acontecer do dia pra noite, pensou Oz. Cosme dividia o mesmo pensamento, embora nenhum dos dois conseguisse verbalizar nada naquele momento de êxtase. Oz conduzia a betoneria com muita destreza, como quem tivesse décadas de prática. Não reduzia em lombadas, tampouco cumprimentava senhoras de cabelo roxo quando em quarta marcha.

De volta ao cenário anterior, Mr. Shake olhava curioso para Ronald. Este mantinha seu rosto imóvel em direção ao horizonte, como que hipnotizado. Então Mr. Shake indagou: "sortudo esse tal de Orozimbo, não?".

Ronnie, sem movimentar um célula sequer, respondeu com um ar misterioro: "ele ainda terá mais surpresas...".

O calor era demasiado naquela tarde e o mistério escondido sob olhar de Ronald esquentou a curiosidade de Mr. Shake, que se derretia em dúvidas e disparava perguntas cruciais, como por exemplo: aconteceria mesmo a distribuição de prendas? seria às 18h como prometido pelo animador Caju Cascalho? ou iria atrasar um pouco? dariam Dadinhos Dizioli, Balas Frumelo, Paçoca Amor? Ou a promessa das prendas também fazia parte da trucagem, do ilusionismo, enfim, da palhaçada?

Mas Ronnie não ouviu sequer uma pergunta de Shake's, pois sua atenção e olhar fixo estavam totalmente voltados para a betoneira que ia, pouco a pouco, desaparecendo no infinito, como se fosse consumida pelo asfalto que parecia evaporar. Estava fascinado pelo símbolo da marca sobre o capô, a inconfundível estrela de duas pontas com as iniciais AC -de Agenor Casagrande-, a marca das marcas, um mito automobilístico, objeto do desejo de 9 entre 10 betoneiristas, projeto vencedor do Prêmio ''Best Beton In The World Ever'' em 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008.

A betoneira AC 500 GLX é equipadíssima. Vem com 8 air-bags de penas de ganso; controle de tração para 600 cavalos; estofamentos com estamparia fashion de Alexandre Herchcovitch; direção hidráulica, elétrica, ferragens e pintura; porta-malas; porta-luvas; porta-objetos; porta-documentos; portas; câmbio automático de real para dólar e de dólar para real, sem falar nos cordiais freios Abs e Bjs.

Mas é no centro esquerdo da estrela de duas pontas, protegido como um diamante sob a marca AC, que oculta-se o exclusivo dispositivo DCL - detector de classes sociais- o elemento inteligente que comanda o sistema de acionamento do DFP -despejador de fumaça preta-, assim que sente a pobreza nas cercanias. Em suma, um prodígio da engenharia, a mais perfeita máquina Für Beton jamais fabricada em todo o planeta, quiçá em todo o mundo...

Era uma AC exatamente como essa, na cor Wildest Silver, que Oz dirigia. Uma macchina de fazer inveja a bettoners de todo o mundo, e que agora desaparecia no horizonte sob o olhar de Ronald. Nesse momento, ele emitiu um gemido medonho e soltou um peido ao mesmo tempo. Em seguida disse com voz roufenha: "Aquela betoneira será minha".